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Coenzima Q10
A coenzima Q10, ou simplesmente CoQ10, é uma importante substância produzida pelo corpo e está presente em praticamente todas as células do organismo. Ela participa do processo de produção de energia nas células, estando em maior quantidade nos órgãos que demandam maior energia para funcionamento, como coração, rins, fígado, cérebro e tecidos musculares.
Além disso, a CoQ10 também possui atividade antioxidante, protegendo as células dos danos causados pelos radicais livres, que são danos conhecidos por acelerar o processo de envelhecimento e o aparecimento de doenças crônicas.
Contudo, a produção de CoQ10 pelo corpo diminui com a idade e pode estar em níveis mais baixos em alguns casos específicos, como em pessoas com doenças cardiovasculares (insuficiência cardíaca, pressão alta), diabetes, doença de Parkinson, fibromialgia, certas doenças nos músculos e infecção por HIV. O tabagismo e o uso de estatinas, um tipo de medicamento usado para controle dos níveis de colesterol, também podem levar à diminuição dos seus níveis no organismo.
São diversos os estudos sobre os benefícios da suplementação com CoQ10, especialmente para aqueles que apresentam maior risco de deficiência, como os exemplos citados anteriormente, uma vez que sua presença é indispensável para o funcionamento adequado do organismo. Além de melhorar a produção de energia pelo corpo, seus benefícios incluem a melhora da saúde do coração, enxaqueca, fortalecimento do sistema imunológico, entre outros, e isso com um reconhecido perfil de segurança e sem grandes efeitos colaterais, conforme a literatura atual.
Enxaqueca
Diversos estudos já foram realizados a fim de avaliar os efeitos da CoQ10 na melhora das características clínicas da enxaqueca, que é uma das doenças neurológicas mais frequentes em todo o mundo.
Dois ensaios clínicos randomizados, duplo-cego e controlados por placebo foram realizados com a finalidade de observar o efeito da suplementação com CoQ10 na enxaqueca. O de 2019 foi conduzido com 45 mulheres com diagnóstico de enxaqueca episódica e idade entre 18-50 anos, as quais receberam CoQ10 ou placebo por um período de três meses. Como resultado, foi visto que a suplementação com CoQ10 levou à redução nos níveis do fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), marcadores relacionados aos processos de inflamação e sinalização de dor. Com isso, observou-se também uma melhora significativa na frequência, gravidade e duração das crises de enxaqueca no grupo CoQ10 em comparação com o placebo. Já o estudo de 2005 foi realizado com 42 pacientes, em que observou-se que o uso da CoQ10 foi superior ao placebo para frequência de ataque, dias de dor de cabeça e dias com náusea, após 3 meses de tratamento. Com isso, o estudo concluiu que seu uso é eficaz e bem tolerado.
Em três revisões sistemáticas e meta-análises realizadas entre os anos 2019 e 2021, também foram encontrados resultados positivos com a suplementação de CoQ10 na enxaqueca. Na revisão de 2019, em que foram incluídos cinco estudos com 346 pacientes na meta-análise, concluiu-se que a CoQ10 foi mais eficaz do que o placebo na redução da duração e dias por mês da enxaqueca, suportando o seu uso como um agente terapêutico. Já na revisão de 2020, foram incluídos quatro ensaios clínicos randomizados com 221 participantes, tendo-se encontrado redução significativa da frequência de crises de enxaqueca, mas não quanto à gravidade e duração das crises de enxaqueca. Por outro lado, a revisão realizada em 2021, que contou com seis estudos e um total de 371 participantes em sua meta-análise, encontrou que o uso de CoQ10 levou à redução da duração e da frequência da crise de enxaqueca, em comparação com o grupo controle.
Adicionalmente, um estudo de 2007 avaliou 1550 pacientes com dores de cabeça frequentes, atendidos em um centro de saúde. Desses pacientes, 32,9% apresentaram baixos níveis de CoQ10, aos quais recomendou-se a suplementação. Após um período de cerca de 3 meses observou-se melhora tanto nos níveis de CoQ10 quanto na melhora clínica da cefaleia, incluindo diminuição da frequência e melhora da dor de cabeça incapacitante, reforçando a importância da identificação da deficiência e da suplementação na melhora do paciente.
Saúde do Coração
Os efeitos benéficos da CoQ10 nas doenças cardiovasculares vêm sendo bastante estudados nos últimos anos. Além disso, foi visto que um baixo nível de CoQ10 no coração está relacionado à gravidade da insuficiência cardíaca, e a sua suplementação vem sendo aplicada para melhora da saúde do coração e do sistema cardiovascular como um todo.
Em 2019 foi realizado um estudo randomizado e duplo-cego com 231 pacientes com insuficiência cardíaca moderada a grave, que receberam CoQ10 ou placebo em adição à terapia padrão. Como resultado, observou-se que a suplementação a longo prazo com a CoQ10, em comparação com o placebo, resultou em redução significativa e segura dos eventos cardiovasculares adversos maiores, da mortalidade por todas as causas e mortalidade cardiovascular, da hospitalização, assim como melhora dos sintomas e da sobrevida. Além disso, o uso de CoQ10 também foi associado a um aumento da fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Resultados semelhantes haviam sido encontrados em um estudo prospectivo de 2 anos realizado em 2014, que contou com 420 pacientes, e também demonstrou os benefícios da suplementação a longo prazo em pacientes com IC moderada a grave. Foi observada diminuição significativa na mortalidade cardiovascular, mortalidade por todas as causas e incidência de internações por insuficiência cardíaca no grupo CoQ10 em comparação com o grupo placebo, demonstrando que o uso contínuo da CoQ10 por estes pacientes é seguro, além de melhorar os sintomas e reduzir os principais eventos cardiovasculares adversos.
Uma revisão de 2017, que reuniu 14 ensaios clínicos randomizados com um total de 2.149 pacientes, também avaliou a eficácia da CoQ10 em pacientes com insuficiência cardíaca, concluindo que o uso de CoQ10 por estes pacientes levou à diminuição na mortalidade e uma melhora na capacidade física em comparação ao placebo. Esses resultados também reforçam os encontrados em um estudo de 1993, que contou com 322 pacientes com insuficiência cardíaca congestiva crônica, em que o uso de CoQ10 a longo prazo reduziu significativamente a hospitalização por agravamento da insuficiência cardíaca e a incidência de complicações graves nestes pacientes.
Os benefícios da suplementação com CoQ10 também foram avaliados considerando outros fatores relacionados a doenças cardiovasculares. Uma meta-análise de 2020, que incluiu 12 estudos envolvendo um total de 650 participantes, demonstrou que seu uso tem um potencial aumentado para reduzir o risco de doenças cardiovasculares em pacientes diabéticos, tendo apresentado uma diminuição significativa no colesterol total e LDL (“colesterol ruim”) em comparação ao placebo. Esses efeitos têm relação direta com as suas propriedades de proteção contra o estresse oxidativo e melhora da saúde endotelial.
Outro estudo realizado em 2018, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, com 101 indivíduos dislipidêmicos, concluiu que a suplementação com CoQ10 é uma opção em potencial para a prevenção primária de doenças cardiovasculares. O uso por 24 semanas levou à diminuição da pressão arterial, dos triglicerídeos e do colesterol LDL (“colesterol ruim”), quando comparado ao grupo placebo, os quais são fatores de risco estabelecidos para doenças cardiovasculares.
Energia
A CoQ10 é um importante componente para a produção de energia nas mitocôndrias das células, além de possuir potente ação antioxidante, possuindo, portanto, papel indispensável na produção de energia pelo corpo. Com base nisso, diversos estudos foram realizados com a finalidade de avaliar o efeito de seu uso na fadiga e falta de energia.
Uma revisão sistemática de 2019 estudou o efeito da suplementação de CoQ10 na fadiga, contando com 16 estudos e um total de 1316 participantes. A maior parte dos estudos mostrou efeitos benéficos significativos do uso de CoQ10 no estado de fadiga entre indivíduos saudáveis ou com alguma condição de saúde relacionada, entretanto apresentando melhores resultados em pessoas com fadiga relacionada ao uso de estatinas (medicamento usado no tratamento de dislipidemias) e com fibromialgia. Com isso, fica evidente também o papel da suplementação em indivíduos com maior risco de níveis baixos de CoQ10 no organismo, para a melhora da produção de energia pelo corpo.
Por outro lado, um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo com 17 voluntários saudáveis por 8 dias, em 2008, avaliou o efeito do uso de CoQ10 após exercício físico indutor de fadiga. Como resultado, observou-se uma melhora na sensação subjetiva de fadiga e no desempenho físico durante os testes.
Exercícios extenuantes estão associados a diversas alterações no organismo, como a alta produção de mediadores pró-inflamatórios relacionados a danos musculares, além de influenciar também o metabolismo ósseo e energético. Com base nisso, em 2020 foram realizados 2 estudos com a finalidade de avaliar o efeito da suplementação de ubiquinol (uma forma de CoQ10) de curto prazo nesses parâmetros, para isso reunindo 100 bombeiros saudáveis e bem treinados, que foram divididos em grupo ubiquinol e grupo placebo. Como resultado, foi observado que o uso de ubiquinol durante exercícios de alta intensidade pode modular a sinalização inflamatória, melhorar o suprimento de oxigênio e exercer um possível efeito protetor sobre outras alterações fisiológicas. Em relação ao metabolismo ósseo e energético, foi observado que seu uso aumentou os biomarcadores de formação óssea durante os exercícios extenuantes e apresentou um efeito benéfico na mobilização de fontes de energia, demonstrando o efeito de modulação do ubiquinol no metabolismo durante esses exercícios.
Outro estudo de 2016, avaliou o efeito da suplementação de curta duração com ubiquinol na prevenção do estresse oxidativo associado a exercícios extenuantes. Para isso, 100 indivíduos saudáveis e bem treinados, mas não em um nível de elite, foram divididos em grupo ubiquinol e grupo placebo. Ao final de 2 semanas, foi observado que a suplementação antes do exercício extenuante levou a um aumento no status antioxidante total, diminuindo o estresse oxidativo, além de aumento no NO plasmático, indicando seu potencial na melhora da função endotelial, suprimento de substrato energético e recuperação muscular após exercício extenuante.
Adicionalmente, em 2018 foi realizado um estudo com o mesmo propósito, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, com 21 jovens atletas do sexo masculino, por um período de 1 mês. Foi observada uma diminuição significativa do nível plasmático de CoQ10 após os exercícios intensos em todos os participantes, já na primeira sessão, provavelmente relacionada ao aumento da demanda do organismo. Essa diminuição induzida pelo exercício foi minimizada com a suplementação de ubiquinol, no grupo experimental, associada também a um aumento nos níveis plasmáticos e celulares de antioxidantes, apesar de não ter demonstrado melhora nos índices de desempenho físico.
Referências:
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